Muito se tem falado sobre o excesso de peso durante a infância, em particular dos problemas psicológicos na obesidade infantil. “As crianças deveriam ser bem nutridas, fisicamente ativas, saudáveis e ter bom aproveitamento escolar” (Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil), mas, infelizmente, as crianças não respeitam a pirâmide da alimentação e, cada vez mais, consomem alimentos industrializados com alto teor de gordura e açúcar em detrimento de verduras e legumes.
Um estudo recente da Organização Mundial de Saúde mostra que Portugal está entre os países europeus em que se verificam as mais elevadas taxas de obesidade infantil:
- [2-5 anos] 28,9% das crianças têm peso excessivo e 12,7% são classificadas como obesas; dos 6 aos 8 anos;
- [6-8 anos] 31,8% das crianças têm excesso de peso e a da obesidade é de 13,6%;
Segundo este estudo, em média, uma em cada três crianças tem excesso de peso ou é obesa, o que é um dado muito preocupante e um sério problema de saúde infantil, pois a obesidade infantil esta associada ao desenvolvimento de doenças graves.
Quando é que se considera uma criança obesa
Para saber se uma criança é obesa, recorre-se a um padrão de referência de obesidade denominado Índice de Massa Corporal (IMC). Este indicador mede a relação entre o peso e a altura ao quadrado, isto é, o IMC é calculado por meio da seguinte fórmula matemática:
Em geral, para um adulto ou adolescente, se o resultado desse cálculo for superior a 30 Kg/m2, a pessoa é considerada obesa.
Para minimizar os erros nos resultados de crianças, costuma-se usar o IMC percentil, o qual indica a posição relativa do IMC da criança em relação a outras crianças do mesmo sexo e idade.
Causas da obesidade infantil
São diversos os fatores que contribuem para a obesidade infantil, em que se destacam-se os fatores ambientais, tais como o comportamento alimentar e exercício físico; as doenças endócrinas e síndromes genéticos são apenas responsáveis por menos de 1% da obesidade infantil. De fato, uma alimentação desequilibrada associada ao sedentarismo e a reduzida prática de exercício físico contribuem significativamente para os elevados níveis de obesidade infantil em Portugal.
A maioria das crianças come muito e mal! Fazem uma alimentação com excesso de açúcar (refrigerantes, bolos, doces…), gorduras saturadas e sal, e baixo consumo de fibras (pouca fruta e vegetais).
A esta alimentação desequilibrada associa-se o sedentarismo e a reduzida prática de exercício físico. Muitas crianças favorecem a permanência em casa (passam muitas horas em frente do computadores ou entretidos com vídeo jogos) e a prática de atividades físicas é reduzida ou nula.
Consequências e problemas psicológicos na obesidade infantil
Uma criança obesa pode vir a sofrer de problemas de saúde graves, como o aparecimento de diabetes tipo 2, colesterol elevado, hipertensão arterial, problemas ortopédicos e puberdade precoce. Em adultos, correm o risco de sofrer de doenças cardiovasculares. Por isso, é urgente que a criança obesa seja tratada!
Além dos problemas de saúde graves, geralmente existem problemas psicológicos na obesidade infantil. A criança obesa geralmente apresenta problemas psicológicos e sociais, com consequências diretas na sua autoestima e quebra no seu rendimento escolar. Poderá apresentar dificuldades de relacionamento com os colegas, baixa autoestima, depressão, bem como geralmente está mais sujeita a ataques de bullying e outros tipos de discriminação social.
No final da infância e início da adolescência, com o aproximar das transformações físicas, a criança obesa tende a sofrer as consequências psicológicas, emocionais e sociais pelo excesso de peso. O excesso de peso afeta a imagem corporal da criança, prejudicando a forma de pensar em relação a si mesma, mudando os seus comportamentos, em particular, contribui para a baixa autoestima.
Prevenção da obesidade infantil
A prevenção tem que começar na gestação, porque uma alimentar incorreta da gestante pode causar ao bebé uma predisposição para o quadro de obesidade. Ao nascer, o bebê deverá ser alimentado exclusivamente com leite materno, dado ser um alimento balanceado e adequado para a fase de vida do recém-nascido até os seis meses de idade.
Quando o leite materno é substituído por outros alimentos, a mãe deve procurar um pediatra para acompanhar o desenvolvimento do bebê. Mais tarde, quando a criança entra para um estabelecimento de ensino (creche ou escola), a mãe deve estar atenta à cantina e verificar que oferecer uma alimentação saudável à criança, o que infelizmente raramente acontece.
É imprescindível o envolvimento da família e de todos os prestadores de cuidados às crianças e adolescentes na mudança de hábitos e comportamentos. A melhor medida de prevenir e tratar a obesidade é a adoção de hábitos saudáveis.
Tratamento da obesidade infantil
As dietas restritivas não são recomendadas durante a infância e adolescência. A criança está em desenvolvimento e não deve ser privada dos principais nutrientes. Deve fazer pelo menos 5 refeições por dia (pequeno almoço, merenda a meio da manhã, almoço, lanche a meio da tarde e jantar).
Nas refeições principais devem comer sopa, prato principal (com vegetais) e fruta e acompanhar a refeição com água. No intervalo destas refeições devem comer pão, leite, iogurte ou fruta. Uma alimentação equilibrada deve estar associada à prática regular de exercício físico na escola ou nos tempos livres, em detrimento da televisão e dos jogos eletrónicos.
Problemas psicológicos na obesidade infantil e como o psicólogo pode ajudar
São diversos os problemas psicológicos na obesidade infantil. A criança obesa tende a sofrer de dificuldades psicológicas, emocionais e sociais, pese embora o simples facto de ser obesa não estar diretamente associado com elevados níveis de depressão, ansiedade, ou baixa autoestima.
É a perspetiva de a criança se encaixar (ou não) nas normas de aparência que gera um efeito negativo e propicia o desenvolvimento de depressão e baixa autoestima. De fato, a criança obesa pode formar uma autoavaliação negativa de si própria, como reação ao comportamento discriminatório de que é alvo (ou que é percebido como tal).
É importante referir que a tentativa da criança obesa em se encaixar nas normas de aparência da sociedade, onde ser magro equivale a ser atraente, origina stress ou mal-estar devido às constantes tentativas para perder peso através de dieta. A culpa sentida ao falhar na persecução de uma dieta, a preocupação que acompanha a dieta e a interferência que ela causa nas atividades sociais, provoca stress e, nos casos mais graves, na adolescência, pode levar a situações de anorexia ou bulimia.
Aqui é importante o papel da família, que deverá contribuir positivamente para minorar a pressão sobre a criança. Em muitos casos, verifica-se que a criança obesa é submetida por longos períodos de tempo a troça ou o chamar nomes por parte dos seus pares e/ou membros da família devido ao peso excessivo, o que tem um grande impacto a nível psicológico, para além de interferir nas relações sociais.
Os adolescentes submetidos a esse tratamento demonstram maus resultados na satisfação corporal, autoestima, sintomatologia depressiva e elevada percentagem de relatos de ideação suicida e tentativas de suicídio.
Em suma, ser obeso é, em muitos casos, estigmatizante e pode originar problemas psicológicos graves. Dai ser importante a ajuda profissional de um psicólogo, que poderá ajudar a criança obesa a superar as suas dificuldades psicológicas, emocionais e sociais.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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