Terapia sexual no século XXI

Terapia sexual no século XXI: eficácia da intervenção psicológica

Em Psicologia clinica por Elisabete Condesso

Estudos recentes apontam a direção para a terapia sexual no século XXI e confirmam a eficácia da intervenção psicológica no tratamento dos problemas sexuais. Deste forma, salientam que os psicólogos têm aqui um enorme e fundamental papel a desempenhar. 

Estas são as conclusões de um artigo publicado este mês na revista americana “Monitor on Psychology”, publicação da APA, American Psychological Association, a maior associação de psicólogos do mundo. Com o título “Terapia Sexual para o século XXI” (Sex therapy for the 21st century), tema central da revista deste mês, o artigo realça que o tratamento dos problemas sexuais tem que incluir necessariamente uma intervenção psicoterapêutica.

Revista Monitor on Psychology - Fev.2019
Revista Monitor on Psychology – Fev.2019

Ainda se continuam a utilizar técnicas baseadas nos estudos pioneiros dos anos 60

Já passou mais de um século desde que os famosos pesquisados William Masters e Virginia Johnson realizaram o estudo pioneiro da resposta sexual e diagnóstico e tratamento da disfunção sexual.

Este trabalho serviu de base à moderna terapia sexual, e hoje os terapeutas sexuais usam uma variedade de abordagens para tratar a disfunção sexual, muitas baseadas nas técnicas delineadas por Masters e Johnson, que remontam à década dos 60s.

Tratamento ainda se baseia maioritariamente na farmacologia

Tendo como base as técnicas descritas por Masters e Johnson, uma nova geração de investigadores identificou nova maneiras de ver a sexualidade e forma inovadoras de tratar os problemas sexuais, incluindo problemas como a falta de excitação ou desejo, a dor, e a incapacidade de atingir o orgasmo.

O Viagra, primeiro tratamento oral para a disfunção erétil, chegou ao mercado em 1998, e veio revolucionar o tratamento dos problemas sexuais. A partir dai a terapia sexual passou a centrar-se na farmacologia. Duas décadas depois e ainda há um grande ênfase no tratamento farmacológico para os problemas sexuais, observa a Doutora Cynthia Graham, professora de saúde sexual e reprodutiva no Universidade de Southampton, na Inglaterra.

Descobertas recentes identificam a psicoterapia como formas eficaz de tratamento

Entretanto, os psicólogos têm demonstrado que as intervenções psicoterapêuticas têm provado serem eficazes no tratamento dos problemas sexuais. A Doutora Marita McCabe e colegas concluíram que os fatores psicossociais são fatores de risco claros para a disfunção sexual.

Casal com dificuldades sexuais
Casal com dificuldades sexuais

Num artigo publicado na revista americana “The Journal of Sexual Medicine” (The Journal of Sexual Medicine, Vol. 13, No. 2, 2016), propuseram que mulheres e homens com problemas sexuais devem receber tratamento psicológico. Mesmo na disfunção sexual do homem, que pode ser tratada com medicamentos como o Viagra, ele pode experimentar consequências psicológicas que também precisam de ser tratadas. A maior parte da terapia sexual nos homens é direcionada para as consequências que ocorrem devido a um problema sexual, mas não tem em conta, nem trata o que está na origem do problema. Um homem com um problema sexual é suscetível de ter problemas de autoestima e falta de confiança, que pode causar um sentimento de receio da intimidade.

Nos homens, o desejo sexual é fortemente influenciado pela testosterona. Mas nas mulheres, a disfunção sexual é frequentemente mais complexa. O desejo sexual nas mulheres é mais provável ser impulsionado por um desejo de intimidade, sentir-se próxima e valorizada. Isso pode ajudar a explicar por que foram dececionantes as vendas de flibanserina (medicamento para tratar o baixo desejo sexual em mulheres) e por que geralmente a intervenção psicológica é a melhor escolha para as mulheres.

É claro que homens e mulheres com disfunção sexual devem descartar causas biológicas. Mas os produtos farmacêuticos, por si só, não curam a maioria dos distúrbios sexuais.

A perspetiva do casal e o papel do parceiro na terapia sexual

A maioria dos terapeutas sexuais têm-se concentrado no tratamento dos problemas sexuais ao nível individual. Mas é sabido que são necessários “dois para dançar”. Por isso, cada vez mais os pesquisadores têm estudado o papel do parceiro. A disfunção sexual é muitas vezes vista como um problema individual, quando, claro, muitas vezes é um problema do casal. Quando um parceiro tem disfunção sexual, ele pode tornar o sexo mais stressante e menos prazeroso para o parceiro. Não é de admirar que isso afete o desejo sexual.

Um estudo coordenado pela Doutora Natalie Rosen (publicado no “The Journal of Sexual Medicine”, Vol. 9, No. 9, 2012) aponta para uma forma interessante de o casal ultrapassar algumas dificuldades. Em muitos casos, os parceiros simpáticos ou “solícitos” sentem-se inclinados a interromper um encontro sexual quando a mulher sente dor. Segundo as investigadoras, os resultados demonstram que as mulheres acabam por sentir maior intensidade de dor e menor satisfação sexual, em comparação com as mulheres com parceiros que as encorajam a adaptar-se, ou a encontrar outras maneiras de criar intimidade sexual. Estas pesquisas sobre o papel do parceiro no funcionamento sexual e na satisfação são realmente críticas e começam a mudar o modo como os terapeutas sexuais tratam os pacientes e seus parceiros.

Casal feliz
Casal feliz

Sociedade promove um estilo de vida sexual que causa ansiedade e stress

De certa forma, hoje o sexo é menos tabu do que na década de 60, quando Masters e Johnson iniciaram as suas pesquisas. Há uma maior abertura das gerações mais jovens para falar sobre sexo e sexualidade e as conversas são muito diferentes hoje do que eram 20 ou até 10 anos atrás. No entanto, mesmo hoje, no século XXI, estes tópicos ainda fazem corar algumas pessoas e deixam-nas inquietas. 

Culturalmente, continuamos a ter muita ansiedade em relação ao sexo. Em Portugal, e em geral na cultura ocidental, o sexo frequentemente provoca mensagens confusas. Podemos brincar sobre o sexo, mas não falamos como realmente é – especialmente quando temos um problema. Por outro lado, há toda uma “vaga”  sugerindo que deveríamos ter uma vida sexual incrível. Somos inundados pela cultura popular com mensagens muito sugestivas sobre o que é “bom sexo” e essas mensagens geram muita ansiedade e stresse. Por isso não é estranho que os problemas sexuais tenham na sua base uma forte componente psicológica.

Formas inovadoras de tratamento dos problemas sexuais

Muitas pessoas ainda se recusam a procurar ajuda para os seus problemas sexuais. E há muitas pessoas com problemas sexuais que nunca se sentiriam à vontade para estar frente a frente e falar sobre a sua sexualidade ou os seus problemas sexuais.

Essa é uma das razões pelas quais os terapeutas sexuais estão otimistas quanto ao desenvolvimento de técnicas como a telepsicologia (intervenção psicológica via internet). Os Doutores McCabe e Catherine Connaughton da Universidade Católica Australiana, descreveram abordagens como a  telepsicologia para a terapia sexual, num capítulo do livro “Wiley Handbook of Sex Therapy” de 2017. Eles concluíram que mais pesquisas são necessárias, embora os estudos iniciais tenham demonstrado que a telepsicologia é eficaz para tratar uma variedade de problemas sexuais em homens e mulheres. Intervenções ciberdigitais podem construir uma ponte para as pessoas que têm dificuldade em falar pessoalmente sobre o sexo.

Olhando um pouco mais para o futuro, os pesquisadores encontraram novas áreas a explorar, como o efeito da doença e envelhecimento na sexualidade. Muitas vezes, há uma relutância em aceitar essa parte muito importante da vida das pessoas. É um campo vital que vai lançar novas formas de percebermos a sexualidade e certamente dará origem a novas formas de tratamento.

Contudo, hoje, em pleno século XXI, não resta qualquer dúvida que a maior parte do tratamento para a disfunção sexual é psicológica, e os psicólogos têm um papel enorme a desempenhar na avaliação e tratamento desses problemas. Na PsicoAjuda dispomos do serviço de psicoterapia individual e psicoterapia de casal, ambos visam melhorar ou resolver os problemas emocionais e que geralmente estão na origem dos problemas sexuais.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

Foto cortesia de Ambro em freedigitalphotos.net

Sobre o Autor

Elisabete Condesso

Directora clínica da PsicoAjuda. Psicóloga clínica e Psicoterapeuta. Licenciada em Psicologia Clínica pela ULHT de Lisboa e com pós-graduação em Consulta Psicológica e Psicoterapia. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. Título de especialista em “Psicologia clínica e da saúde” atribuído pela Ordem dos Psicólogos.