A mulher de hoje adquiriu múltiplos papéis. A mulher, ao inserir-se no mercado de trabalho, mantém o seu papel de esposa, mãe e dona de casa, e ao mesmo tempo, é também profissional. Por isso, ela tem de administrar o seu tempo desdobrando-se entre as tarefas domésticas e o seu trabalho. Assim, a mulher acaba por ficar mais exposta a sofrer de doenças psicológicas, assim o mostram as estatísticas mais recentes.
O que mostram as estatísticas
Sabemos que nos últimos 35 anos diversas têm sido as iniciativas para equilibrar os resultados de homens e mulheres nos indicadores do desenvolvimento humano. Em Portugal, a taxa de atividade feminina não deixou de aumentar progressivamente ao longo das últimas décadas, e de forma consistente, constituindo uma das taxas mais elevadas de participação das mulheres no mercado de trabalho no conjunto dos países da União Europeia, perfazendo, em 2005, o valor de 68,1%.
Contudo, o trabalho doméstico permanece central na estruturação do quotidiano das mulheres, mesmo para aquelas integradas no mercado de trabalho. O tempo de trabalho doméstico representava, em média, cerca de 18% do tempo total semanal, enquanto a população masculina gastava apenas 2,5% do seu tempo total semanal naquele tipo de atividades. Uma percentagem significativa de homens nesta amostra (54,4%) afirmava não realizar qualquer tipo de tarefa doméstica. Por tudo isto, é natural que a conciliação entre o trabalho e a família seja mais difícil de conseguir para as mulheres do que para os homens.
Dados estatísticos recentes mostram que a percentagem de divórcios é mais elevada entre as mulheres empregadas (76%) do que entre as mulheres desempregadas e as não ativas (respetivamente, 5,7% e 7,2%). Paralelamente, é entre os 30 e os 39 anos de idade que a taxa de divórcio é mais elevada entre as mulheres (39,2%), e mais elevada para as mulheres com filhos/as (68,9%) do que para aquelas sem filhos/as (31,1%).
Ainda continua a existir desigualdade
A mulher vê-se impedida a perseguir um crescimento do “eu” e da sua realização profissional, mesmo que não tenha um projeto pessoal, quer para ser respeitada, quer por razões de ordem financeira. Além da sua realização profissional, o trabalho está ligado também à própria subsistência da sua família, visto que o seu vencimento agora é incorporado no rendimento familiar.
A mulher sente-se “dividida” ao resolver exercer a profissão, pois tem de optar por trabalhar fora, não podendo assim cuidar dos filhos a tempo inteiro. Muitas mulheres, ao priorizarem o trabalho remunerado, angustiam-se por considerarem que deixam de ser boas mães. Percebe-se que muitas delas continuam sendo “regidas” pelo estereótipo de que a mulher realmente deve ser a principal responsável pela prole e pelos cuidados domésticos.
As mulheres ficam mais sujeitas às doenças psicológicas
A mulher, ao somar o trabalho com atividades do lar, soma também problemas relacionados com a sua própria saúde. Ao adicionar o serviço de casa com o trabalho assalariado, a mulher não consegue recuperar da fadiga e do desgaste, e fica mais sujeita a dores, doenças e vários tipos de sofrimento físico e mental.
Desta forma, o desdobramento dos novos papéis da mulher teve como consequência uma sobrecarga de funções, uma vez que ela foi levada a assumir longas jornadas de trabalho ao acumular tarefas dentro e fora de casa.
A mulher trabalhadora desenvolve sintomas que podem levar ao adoecimento, como cansaço, estresse, nervosismo, angústia, insónia, diminuição do desejo sexual, problemas no relacionamento com a família e sentimento de culpa em relação aos filhos por não estarem presentes no seu dia-a-dia.
No que dizem respeito ao ambiente de trabalho, as situações que provocam mais stress na mulher são: o desgaste físico excessivo; interrupção da amamentação e falta de berçário e creche (pela angústia de não ter onde deixar o bebê e/ou os outros filhos menores); e o assédio sexual por parte dos chefes e colegas. Assim, as mulheres ficam mais sujeitas às doenças psicológicas.
Nesse sentido, sabe-se que muitas trabalhadoras quando apresentam casos de doença, preferem omitir e continuar a trabalhar, pois muitas empresas acabam por demiti-las quando descobrem que elas não podem ou estão impedidas de trabalhar. Nestes casos, é necessário que as mulheres cuidem da sua saúde, procurem orientações de profissionais de saúde (médicos e/ou psicólogos) e se informem sobre aos seus direitos.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria
Imagens cortesia de David Castillo Dominici e Stockimages em FreeDigitalPhotos.net