Lidar melhor com as emoções na gravidez

Cuidar melhor das emoções na gravidez

Em Psicologia adultos por Sílvia Felizardo

A gravidez é uma fase de transição para a maternidade que provoca na mulher uma autêntica “revolução” psicossomática: tanto o seu corpo como o seu funcionamento psíquico sofrem profundas mudanças e adaptações, todas elas necessárias para receber o bebé e promover o seu desenvolvimento.

Se está (ou esteve) grávida, provavelmente, já sentiu que estas mudanças afetam o seu estado emocional. Por um lado, pode sentir o deslumbramento de ter um novo ser a crescer dentro de si e ter expetativas positivas em relação à maternidade, por outro, sentir medo e insegurança inerentes à mudança e ao desconhecido. Pode ser difícil lidar com a intensidade das emoções na gravidez, muitas vezes novas e contraditórias. Por isso, este artigo foca-se nos cuidados a ter com o seu estado emocional e como lidar com as suas emoções na gravidez, que sabemos serem fator importante não só para si, como é igualmente muito relevante para o desenvolvimento do seu bebé e saúde mental da futura criança.

Durante a gravidez, mãe e bebé estão em sintonia, os sentimentos da mãe são percecionados pelo bebé como sensações. Assim, nesta fase devemos dar atenção não só aos cuidados a ter com a saúde física, mas também aos cuidados a ter com a saúde emocional.

Para viver uma gravidez com tranquilidade e confiança é muito importante o apoio das pessoas que a cercam, seja do companheiro, do resto da família ou da comunidade. Procure e aceite este apoio.

Alterações de humor durante a gravidez

No mesmo dia o seu humor pode alterar-se uma e outra vez. Poderá sentir que está muito sensível e que as emoções estão à flor da pele. Pode irritar-se mais facilmente, começar a chorar a ver uma cena de um filme, uma notícia ou a ler um livro, principalmente quando descrevem situações que envolvem crianças, bebés e pais. Pode também, de repente demonstrar grandes manifestações de alegria. O humor pode mudar de estados de euforia e excitação para medos e preocupações, de felicidade para tristeza. As causas destas mudanças de humor podem ser explicadas pelas alterações hormonais que acontecem no seu corpo, mas também pelo próprio nervosismo provocado por todas as mudanças que ocorrem durante a gravidez. As oscilações de humor podem relacionar-se em grande parte com o esforço de adaptação à nova vida, que envolve novas rotinas, novas tarefas, responsabilidades, aprendizagem e descobertas.

Preocupações com as mudanças corporais

Podem surgir também preocupações com o corpo que afetam as suas emoções. Algumas mulheres gostam muito da experiência física da gravidez e sentem-se bonitas, fortes e positivas, enquanto outras não gostam das alterações que ocorrem no seu corpo e preocupam-se com o peso que vão ganhar, se vão ficar gordas e feias e se vão voltar à forma que tinham antes da gravidez. Lembre-se que se tiver uma alimentação saudável, aumentar de peso é normal e transitório. Valorize-se e cuide do seu corpo.

Sentimentos em relação ao sexo durante a gravidez

É natural se a sua vida sexual mudar durante a gravidez. Algumas mulheres gostam de ter relações sexuais, outras não. Também o seu companheiro pode se sentir bem ou não, apesar de saberem que é perfeitamente seguro para o bebé (com exceção de complicações específicas em que receberá conselhos do médico). Este aspeto pode gerar ansiedade no casal, por isso é muito importante a comunicação com o seu companheiro. Os dois devem falar um com o outro sobre os seus sentimentos em relação ao sexo, se mudaram, como mudaram e porquê. Assim, podem partilhar e ajudar-se mutuamente, libertar preocupações que tenham e podem encontrar outras formas de intimidade. Salienta-se ainda que estudo recentes aponta a eficácia da intervenção psicológica neste contexto, pelo que a ajuda de um psicólogo pode ser importante.

Relação do casal na gravidez
Relação do casal na gravidez

A ansiedade na gravidez

Durante a gravidez é frequente a ambivalência emocional, mas há que distinguir esta situação das emoções negativas persistentes e muito perturbadoras, o que pode ser um indicador de problemas mais sérios como a ansiedade. Se todas as interrogações e pensamento decorrentes da situação de grávida são por si geradoras de ansiedade, esses mesmos sentimentos quando omitidos ou negados podem aumentar o desconforto, a pressão, os sentimentos de culpa, a sensação de tristeza, apatia, ataques de pânico, comportamentos obsessivos, ou até pensamentos de morte e suicídio. Se sente que não está a conseguir lidar com as emoções na gravidez, pode estar a viver uma situação de ansiedade e será aconselhável que procure a ajuda profissional de um psicólogo.

O que fazer para promover o bem-estar emocional

Há muitas atividades que podem ajudá-la a promover o seu bem-estar emocional e lidar melhor com as emoções na gravidez. Destacamos aqui algumas.

  • Informe-se. Há muitos livros, revistas e sites na internet que têm as mais variadas informações sobre a gravidez e podem ajudá-la a entender o que se vai passando consigo ao longo destes nove meses. Converse também com os médicos e com outras mulheres que estão grávidas ou já estiveram. Pode gostar mais de viver determinadas fases da sua gravidez se perceber o que está a acontecer. O conhecimento traz segurança.
  • Procure ter tempo para descansar e dormir. A privação do sono tem efeitos negativos no humor e na capacidade para lidar com problemas que possam surgir. Tente ter um tempo só para si e para o seu bebé, para descansar e dormir.
  • Mantenha um estilo de vida saudável. Evite realizar atividades muito stressantes, e faça atividades que sejam relaxantes e ao mesmo tempo a mantêm ativa, como caminhadas, yoga, pilates e meditação.  Fazer exercício, meditação e uma nutrição saudável contribuem para o bem-estar físico e psicológico.  Fazer massagens na barriga e ouvir música também são atividades benéficas para si e para o bebé.
  • Evite o isolamento social e relacione-se com os outros. Apesar de poder sentir vontade e ser benéfico ter momentos a sós com o seu bebé não deve isolar-se o tempo todo. Procure estar com outras pessoas e conviver com familiares e amigos. Tenha atividades de lazer e cultive relações positivas.

Pode também participar em grupos online e grupos de apoio pré-natal que existam na comunidade onde vive. Se fizer isso, provavelmente vai encontrar pessoas com experiências semelhantes às suas que poderão ajudá-la a ter ideias de como lidar com alguns problemas. Vai também, encontrar pessoas com experiências e emoções diferentes das suas que a ajudarão a perceber que cada mulher e cada gravidez são únicas e que não é saudável estar constantemente a comparar-se e a julgar-se por ser como é.

  • Envolva o seu companheiro na experiência da gravidez. Em qualquer aspeto de uma relação, a comunicação é fundamental para o entendimento. Numa relação de casal deve haver uma comunicação constante. Na gravidez, comunique ao seu companheiro as novidades e envolva-o também nesta experiência. Incentive-o a tocar na sua barriga, a falar com o bebé, convide-o para participar nos exames pré-natais.
Envolva o seu companheiro na experiência da gravidez
Envolva o seu companheiro na experiência da gravidez

Assim como já se sente mãe e ama o bebé antes mesmo dele nascer, o seu companheiro poderá desfrutar dos mesmos sentimentos paternos ainda durante a gravidez. O bebé cresce dentro de si, mas a experiência de ter um filho para cuidar e amar é partilhada com o pai, comece a viver esta partilha já durante a gravidez.

  • Fale com o seu bebé. Pode dizer-lhe o quanto o ama. Pode também, dizer-lhe, que a zanga ou a tristeza que sentiu, no dia anterior, não era dirigida a ele, nem por causa dele, o que a ajudará a libertar possíveis sentimentos de culpa.

Falar com o seu bebé, permite-lhe desde já, começar a estabelecer o vínculo afetivo que depois se vai fortalecendo.

Atitudes e pensamentos que promovem a estabilidade emocional

Além das atividades referidas anteriormente que promovem o seu bem-estar emocional, é importante promover atitude e pensamento que contribuam para a sua estabilidade emocional que irão ajudá-la a lidar melhor com as emoções na gravidez.

  • Aceite os seus sentimentos e não se culpe. Lembre-se que não há uma forma perfeita de viver uma gravidez e não se julgue duramente por, às vezes, estar ansiosa.

Pode ter tido a expetativa que estaria sempre feliz quando engravidasse, mas ninguém está feliz o tempo todo. Não gostar de estar grávida não significa que tenha sido um erro engravidar, que ame menos o seu bebé ou que não será uma boa mãe. Exclua dos seus pensamentos e do seu vocabulário mental expressões com “eu deveria me sentir…” e inclua “eu não tenho de ser perfeita”.

  • Foque-se em pensamentos positivos. Se sentir que está sempre preocupada tente mudar o foco dos seus pensamentos para aspetos da sua vida que lhe trazem segurança e tranquilidade. Pense numa preocupação de cada vez, começando por tentar resolver situações do presente sobre as quais tem mais controlo.
  • Confie em si como mãe. Ter autoconfiança significa ter a crença de que é capaz.  Confiar em si como mãe é acreditar que sabe ser uma boa mãe e que vai conseguir não só viver as alegrias, mas também superar dificuldades e deceções. Tenha a certeza que fará sempre o seu melhor, e mesmo que em algum momento pareça não ser o melhor, foi o possível para si e está tudo bem.

O mais importante é ser você própria, é ser uma mãe autêntica, sem falsidades. Uma mãe autêntica pode dizer não sei quando não sabe, não quero quando não quer, pode ser verdadeira com os seus sentimentos sem ter de provar nada a ninguém. Cada uma de nós, como mães encontrará a sua forma única de ajudar os filhos a crescer e tornarem-se adultos felizes. 

Sinta-se bem consigo própria e viva a gravidez com a certeza que será a melhor mãe do mundo para o seu filho.

Sílvia Felizardo  / Psicóloga Clínica

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Sobre o Autor

Sílvia Felizardo

Psicóloga clínica e colaboradora da PsicoAjuda como autora de artigos e publicações. Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde pela Ordem dos Psicólogos. Licenciatura pré-Bolonha em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Membro da Ordem dos Psicólogos.