Compras compulsivas

Compras compulsivas no Natal?

Em Psicologia adultos por Elisabete Condesso

Compras compulsivas é um transtorno psicológico, predominante no sexo feminino, que emerge numa sociedade materialista marcada pelo estímulo ao consumo.

Aproxima-se a época do Natal. Em geral, nesta época do ano, fazemos mais compras ou gastamos mais do que planeado. Será esse comportamento normal?

Na atual sociedade moderna, de consumo massivo, assiste-se ao apelo constante à aquisição de bens, sendo hoje possível realizar compras mesmo sem sair de casa, utilizando meios como o telefone, televisão ou internet.

Na presença de um quadro sociopsicológico fragilizado, as pessoas têm alguma dificuldade em distinguir o acessório do relevante. Neste contexto, serão as pessoas capazes de se impor a si mesmas os limites dos seus gastos? Que outras estratégias, além das compras, poderão elas definir para lidar com as suas emoções negativas, de modo a obter satisfação?

Compras compulsivas é um transtorno psicológico

Nas festas natalícias ou datas comemorativas é normal que nós realizemos mais compras ou gastemos mais do que planeado. Mas, um comprador compulsivo apresenta esse comportamento ao longo do ano, manifestando, assim, o transtorno de compras compulsivas, ou oniomania, que se caracteriza por um excesso de preocupações e desejos relacionados com a aquisição de bens e, por um comportamento caraterizado pela incapacidade de controlar compras e gastos financeiros.

Trata-se de um problema psicológico moderno, uma vez que vivemos numa sociedade materialista, marcada pelo estímulo ao consumo e pela facilidade de acesso ao crédito. Manifesta-se predominantemente no sexo feminino, aos 18 anos de idade, quando se obtém maior autonomia relativamente aos pais, mas a perceção do comportamento de compras como um problema ocorre mais tarde, por volta dos 30 anos.

Os objetos preferidos entre as mulheres são roupas, malas, sapatos, perfumes, maquilhagem e joias. É, pois, a impulsividade, o fator essencial do comportamento. De fato, verifica-se uma dificuldade em interromper os comportamentos de compra, obtendo-se consequências danosas.

Critérios de diagnóstico

Os critérios de diagnóstico para o transtorno do comprar compulsivo são:

1) Preocupações, impulsos ou comportamentos envolvendo compras;

2) Impulso irresistível de comprar, geralmente sem necessidade real;

3) Comprar mais do que pode, comprar material desnecessário ou comprar por mais tempo do que o pretendido;

4) A preocupação com compras, os impulsos ou o ato de comprar, causam sofrimento marcante, consomem tempo significativo e interferem no funcionamento social e ocupacional ou resultam em problemas financeiros;

Este transtorno causa graves prejuízos pessoais, financeiros e familiares. Ocorre em pessoas com impulsividade elevada, baixa autoestima, vulnerabilidade a emoções negativas e suscetibilidade à influência sociocultural.

O ato de comprar é vivido pelos pacientes como alívio para as emoções negativas. O indivíduo sente um desejo irresistível de comprar. Após a compra, que tinha como função a procura de prazer e alívio, o indivíduo passa a sentir-se culpado por não ter conseguido manter o controlo.

Ou seja, a aquisição de bens materiais representa um conforto efémero e não resolve as angústias, as frustrações e muito menos a baixa autoestima. A pessoa apercebe-se da inadequação do seu comportamento e tende a esconder os seus gastos dos familiares e amigos.

Mulher com transtorno compras compulsivas
Mulher com transtorno compras compulsivas

Tratamento recorrendo a psicoterapia

É importante que este tipo de problemática seja tratada através de psicoterapia, já que o cerne que leva à compra é a falta de recursos para lidar com situações stressantes e angustiantes, sendo um refúgio que aumenta o evitamento de estratégias de confronto com as situações, de modo a serem resolvidas adaptativamente.

Assim, num processo terapêutico, são detetadas as situações problema, as emoções resultantes, novas estratégias para lidar com elas e, além disso, aumentada a autoestima e o controlo dos impulsos de modo a que as decisões sejam devidamente ponderadas antes de um ato irrefletido.

Consequentemente, obtém-se o controlo da própria vida, uma maior segurança interna e mais ponderação, essenciais para lidar com as solicitações exteriores de uma sociedade de consumo materialista.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

Sobre o Autor

Elisabete Condesso

Directora clínica da PsicoAjuda. Psicóloga clínica e Psicoterapeuta. Licenciada em Psicologia Clínica pela ULHT de Lisboa e com pós-graduação em Consulta Psicológica e Psicoterapia. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. Título de especialista em “Psicologia clínica e da saúde” atribuído pela Ordem dos Psicólogos.