Compras compulsivas é um transtorno psicológico, predominante no sexo feminino, que emerge numa sociedade materialista marcada pelo estímulo ao consumo.
Aproxima-se a época do Natal. Em geral, nesta época do ano, fazemos mais compras ou gastamos mais do que planeado. Será esse comportamento normal?
Na atual sociedade moderna, de consumo massivo, assiste-se ao apelo constante à aquisição de bens, sendo hoje possível realizar compras mesmo sem sair de casa, utilizando meios como o telefone, televisão ou internet.
Na presença de um quadro sociopsicológico fragilizado, as pessoas têm alguma dificuldade em distinguir o acessório do relevante. Neste contexto, serão as pessoas capazes de se impor a si mesmas os limites dos seus gastos? Que outras estratégias, além das compras, poderão elas definir para lidar com as suas emoções negativas, de modo a obter satisfação?
Compras compulsivas é um transtorno psicológico
Nas festas natalícias ou datas comemorativas é normal que nós realizemos mais compras ou gastemos mais do que planeado. Mas, um comprador compulsivo apresenta esse comportamento ao longo do ano, manifestando, assim, o transtorno de compras compulsivas, ou oniomania, que se caracteriza por um excesso de preocupações e desejos relacionados com a aquisição de bens e, por um comportamento caraterizado pela incapacidade de controlar compras e gastos financeiros.
Trata-se de um problema psicológico moderno, uma vez que vivemos numa sociedade materialista, marcada pelo estímulo ao consumo e pela facilidade de acesso ao crédito. Manifesta-se predominantemente no sexo feminino, aos 18 anos de idade, quando se obtém maior autonomia relativamente aos pais, mas a perceção do comportamento de compras como um problema ocorre mais tarde, por volta dos 30 anos.
Os objetos preferidos entre as mulheres são roupas, malas, sapatos, perfumes, maquilhagem e joias. É, pois, a impulsividade, o fator essencial do comportamento. De fato, verifica-se uma dificuldade em interromper os comportamentos de compra, obtendo-se consequências danosas.
Critérios de diagnóstico
Os critérios de diagnóstico para o transtorno do comprar compulsivo são:
1) Preocupações, impulsos ou comportamentos envolvendo compras;
2) Impulso irresistível de comprar, geralmente sem necessidade real;
3) Comprar mais do que pode, comprar material desnecessário ou comprar por mais tempo do que o pretendido;
4) A preocupação com compras, os impulsos ou o ato de comprar, causam sofrimento marcante, consomem tempo significativo e interferem no funcionamento social e ocupacional ou resultam em problemas financeiros;
Este transtorno causa graves prejuízos pessoais, financeiros e familiares. Ocorre em pessoas com impulsividade elevada, baixa autoestima, vulnerabilidade a emoções negativas e suscetibilidade à influência sociocultural.
O ato de comprar é vivido pelos pacientes como alívio para as emoções negativas. O indivíduo sente um desejo irresistível de comprar. Após a compra, que tinha como função a procura de prazer e alívio, o indivíduo passa a sentir-se culpado por não ter conseguido manter o controlo.
Ou seja, a aquisição de bens materiais representa um conforto efémero e não resolve as angústias, as frustrações e muito menos a baixa autoestima. A pessoa apercebe-se da inadequação do seu comportamento e tende a esconder os seus gastos dos familiares e amigos.
Tratamento recorrendo a psicoterapia
É importante que este tipo de problemática seja tratada através de psicoterapia, já que o cerne que leva à compra é a falta de recursos para lidar com situações stressantes e angustiantes, sendo um refúgio que aumenta o evitamento de estratégias de confronto com as situações, de modo a serem resolvidas adaptativamente.
Assim, num processo terapêutico, são detetadas as situações problema, as emoções resultantes, novas estratégias para lidar com elas e, além disso, aumentada a autoestima e o controlo dos impulsos de modo a que as decisões sejam devidamente ponderadas antes de um ato irrefletido.
Consequentemente, obtém-se o controlo da própria vida, uma maior segurança interna e mais ponderação, essenciais para lidar com as solicitações exteriores de uma sociedade de consumo materialista.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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