Casais de orientação mista, o que são? Muito provavelmente já deve ter ouvido falar de um casal que entrou em rutura por um dos cônjuges ter orientação homossexual. A certa altura da vida, num casamento heterossexual, um dos seus elementos percebe que tem atração por pessoas do mesmo sexo. É uma problemática que tem levado casais ou cônjuges a procurarem a nossa ajuda. Saiba mais neste artigo sobre os desafios dos casais de orientação mista, num conceito também conhecido como “casamento lavanda“.
Casais de orientação mista são pautados por diversos conflitos
De acordo com a literatura existente, este tipo de casamento é na sua maioria pautado por diversos conflitos, principalmente ao nível sexual. A decisão de permanecerem juntos como casal é reavaliada constantemente, colocando permanentemente à prova a continuidade da relação. Muitos casais permanecem juntos dado considerarem mais importante o que construíram ao longo do casamento. Compreendem que a separação trará consequências para o seu futuro, sobretudo para os seus filhos.
Qual a motivação para o casamento heterossexual?
Está claro que cada pessoa tem os seus próprios motivos para se casar, sendo essa decisão fomentada pelas circunstâncias da vida de cada um. Dai serem apontadas diversas razões para esta escolha. No entanto, iremos aqui apresentar as principais razões apontadas:
- Carater social. Os cônjuges homossexuais optam por casar de modo a preencherem obrigações socias, indo assim ao encontro do que é esperado pela sua família e pares. Desta forma têm medo de assumir a sua sexualidade;
- Conflitos pessoais. Nutrem sentimentos de confusão relativamente à sua identidade sexual (ou simplesmente têm medo de assumir a sua sexualidade, como referido anteriormente). Esperam que depois de casar a atração por pessoas do mesmo sexo cesse;
- Metas pessoais de vida. Desejam ter uma relação estável ou procuram ter filhos.
Posteriormente ao casamento, frequentemente, casais de orientação mista acabam por permanecer juntos pelas mesmas razões apontadas anteriormente. Sobretudo definem como prioridade a parentalidade e a criação de um ambiente estável para a educação dos seus filhos.
Impacto para quem assume a homossexualidade
Nunca é uma decisão fácil quando um cônjuge homossexual opta por assumir a sua identidade sexual perante a família. Tal iniciativa implica mudanças profundas no contexto familiar e afeta cada um dos seus elementos, tanto a nível pessoal como profissional. As consequências podem colocar em risco toda a rede familiar. É a altura de se fazerem as escolhas e se tomarem as decisões importantes. Como tal, é uma época de grande pressão e stress para todos os intervenientes.
No caso da pessoa que assume a sua homossexualidade, a pressão imposta é maioritariamente relativa ao futuro da sua família. Dai o enorme stress que envolve o momento de tomar as decisões quanto ao futuro. Nesta fase, é comum haver sentimentos de culpabilização, uma vez que sente que devia ter estado mais atento e descoberto a realidade mais cedo.
Aqui, é importante referir que, de acordo com diversos estudos, a maioria não se apercebe da verdadeira identidade sexual do parceiro até a mesma ser revelada. Por vezes, nem o próprio a reconhece. No entanto, o parceiro identifica que já havia algo que faltava, ou seja, por vezes identifica alguns sinais prévios relativamente à falta de interesse sexual por parte do companheiro.
Impacto para o parceiro
No que se refere à pessoa que descobre, as preocupações também se prendem com o futuro da sua família e acresce o facto de ainda ter de interiorizar uma imagem do seu companheiro diferente da que conhecia até ao momento.
Ao nível emocional, quem descobre apresenta sentimentos de dor, culpa, raiva, confusão, perda de autoestima, preocupação e frustração. Esses sentimentos são acompanhados pela sensação de perda face à própria relação e casamento, que se traduz num consequente processo de luto. O impacto para este elemento do casal pode ser bastante significativo, resultando num estado emocional complexo que pode levar a comportamentos disruptivos e desorganização emocional, bem como isolamento em relação aos outros. Como tal, é essencial que procure ajuda especializada para lidar com as mudanças recentes do seu casamento, de modo a potenciar as decisões conscientes relativamente ao seu futuro.
Casais de orientação mista, como proceder junto das crianças
Como todos os pais, os casais de orientação mista preocupam-se com o bem-estar das suas crianças. Uma vez que uma situação desta natureza é especialmente delicada, é importante perceber como proceder junto das crianças do casal.
Não existe uma idade ideal para revelar uma realidade como esta. No entanto, é essencial que se tenha em consideração a maturidade e sensibilidade da própria criança. Como tal, é necessário um planeamento prévio da abordagem a usar e ter em atenção que a criança não deve saber por terceiros, devendo essa revelação ser feita pelos próprios pais.
As reações das crianças poderão ser diversas, mas as mais comuns são o silêncio, a elaboração de múltiplas questões, revolta, lágrimas e medo em relação ao seu futuro. É normal que as primeiras reações sejam no sentido dos seus pais permanecerem juntos, de modo a que a sua realidade permaneça inalterada.
A idade é um fator que poderá predizer muito da reação da criança, nomeadamente:
- Crianças até ao pré-escolar – Tendem a querer que o amor dos pais continue;
- Crianças em idade escolar – Já têm presentes algumas ideias face à homossexualidade e, como tal, a sua reação é (negativamente) influenciada por padrões sociais;
- Adolescentes – São aqueles em que é mais difícil a adaptação a esta realidade, em que muitas vezes, até escondem essa verdade dos outros, com medo de represálias e humilhações. Também é nesta fase que eles próprios se debatem quanto à sua própria identidade sexual, tornando-se difícil e confuso interiorizaram a nova identidade do progenitor homossexual.
As crianças são caraterizadas por terem um elevado nível de resiliência face a novas realidades, mas, tal como os seus pais, também os filhos terão que fazer uma reorganização da sua imagem familiar e do seu futuro.
Na comunicação com a criança, os pais devem ter em conta que a verdade seja revelada por eles. E, principalmente, devem ficar atentos às mudanças que irão estar presentes no futuro dos seus filhos, em particular nos impactos ao nível emocional.
Na PsicoAjuda disponibilizamos serviços adequados a esta problemática, nomeadamente avaliação psicológica, psicoterapia individual e psicoterapia de casal, com vista a possibilitar a estabilidade emocional e a clarificar o melhor caminho para uma vida feliz, que vá ao encontro do que esperamos dela e das nossas relações.
Ana Margarida Rogeiro / Psicóloga e Psicoterapeuta
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