Os comportamentos aditivos e dependências não estão apenas ligados ao consumo de substâncias. O uso excessivo de jogos (incluindo os jogos eletrónicos) e tecnologias, como os ecrãs e internet, também originam sintomas típicos de comportamentos aditivos. Neste artigo iremos abordar a temática da realidade atual dos comportamentos aditivos e quais as terapêuticas mais eficazes.
O uso excessivo de jogos e tecnologias como novos comportamento aditivos
Ao contrário do que geralmente se assume, as dependências não estão apenas ligadas ao consumo de substâncias. O uso excessivo de jogos (incluindo os jogos eletrónicos) e tecnologias, como os ecrãs e a internet, por apresentarem sinais e sintomas típicos de outros comportamentos associados ao consumo de substâncias, foram recentemente classificados como novas formas de adição. Apesar da prevalência ainda ser pouco clara, sabe-se que nos últimos anos tem aumentado este tipo de dependências, em especial o uso excessivo de dispositivos que permitem o acesso à Internet, em que tem aumentado a quantidade de horas diárias passadas online.
O que implica uma adição?
Primeiramente torna-se importante definir e esclarecer o que implica uma adição. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association, APA), considera-se adição “uma doença cerebral que se manifesta pelo uso compulsivo de substâncias. Pessoas com adição (transtorno grave por uso de substâncias) têm um foco intenso no uso de determinadas substâncias, como o álcool ou as drogas, a ponto de poderem terminar com a sua própria vida. Elas continuam a consumir álcool ou drogas, mesmo sabendo que isso causará problemas”.
Normalmente, os comportamentos aditivos estão associados a algo que inicialmente proporciona uma sensação agradável e, como tal, torna-se algo desejável para o sujeito. Mesmo conhecendo as consequências que poderão advir deste consumo ou comportamento, o sujeito perceciona que está no controlo e consegue gerir a situação. No entanto, rapidamente a sensação agradável é substituída pela ânsia da procura obsessiva da repetição daquela sensação e as consequências vão aumentando, devido ao carater aditivo da substância ou da atividade.
Atualmente, o tipo de substâncias mais presentes continuam a ser o álcool e as drogas e o tipo de atividades dependentes centram-se mais nos jogos e no recurso às tecnologias de ecrãs.
Quando os comportamentos aditivos se tornam transtornos
De facto, existe uma grande probabilidade deste tipo de comportamentos aditivos evoluir para um transtorno, devido às suas caraterísticas aditivas, no entanto, depende muito da prevalência, frequência e especificidade de cada situação ou substância associadas.
De acordo com o DSM-V (manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria), existem diversos transtornos associados a esta problemática, diferentes de acordo com o tipo de adição apresentada. Mas todas elas quando praticadas ou consumidas em excesso têm em comum a ativação direta do sistema de recompensa do cérebro, o qual provoca as sensações agradáveis e de prazer. O transtorno é estabelecido quando a ativação deste sistema é tão intensa que chega ao ponto de se negligenciarem atividades normais do dia-a-dia em função da manutenção destes comportamentos.
O modo como este tipo de transtornos se enquadra com cada indivíduo é imprevisível, uma vez que irá depender muito do organismo de cada um e até com a sua própria capacidade de autocontrolo face às adições. Devido a este caráter imprevisível torna-se fundamental a prevenção precoce para que este tipo de comportamentos não evolua para futuros quadros mais preocupantes.
Principais consequências dos comportamentos aditivos
Como já foi referido anteriormente, a problemática das adições implica graves consequências para a vida e desenvolvimento social da pessoa que as pratica, principalmente se forem praticadas numa idade precoce. Estas consequências irão depender muito do tipo específico da adição, mas devido ao facto delas se tornarem no principal foco da vida do sujeito, poderão estar envolvidas as seguintes consequências a longo prazo:
- Aumento de probabilidade de desenvolvimento de distúrbios mentais graves (por exemplo, esquizofrenia);
- Aumento de comportamentos antissociais;
- Graves prejuízos físicos, mentais e sociais.
Grande parte dos programas de intervenção comunitária nestas problemáticas assentam na prevenção e eliminação deste tipo de atividades aditivas, sendo que quanto mais cedo for feita esta intervenção, melhor prognóstico futuro terá o indivíduo, podendo-se evitar deste modo a cristalização daquele tipo de padrões de comportamento.
Possíveis sinais de alerta
Apesar dos efeitos esperados dependerem do tipo de adição, existem sinais que são comuns e que podem ser observáveis pelas pessoas mais próximas, que costumam interagir com a pessoa com este tipo de comportamentos:
- Consumo excessivo de substâncias aditivas ou comportamentos dependentes;
- Procura obsessiva da manutenção deste tipo de rotina e hábitos;
- Irritabilidade associada à falta do motivo da adição;
- Mentira associada à quantidade e frequência da execução do respetivo comportamento aditivo;
- Adiamentos e esquecimentos frequentes da execução de atividades importantes do dia-a-dia;
- Isolamento social e familiar;
- Tristeza e pensamentos negativistas/pessimistas.
Quais as idades propicias para o desenvolvimento deste tipo de comportamentos?
Embora deste tipo de comportamentos não se restrinja a uma faixa etária específica, é na adolescência que existe maior probabilidade de desenvolvimento de comportamentos aditivos.
É estatisticamente conhecida a tendência do desenvolvimento de comportamentos aditivos durante a adolescência, podendo mesmo dizer-se que é socialmente encarado com (quase) normalidade o consumo de substâncias e a adoção de comportamentos de risco nesta faixa etária. Este facto pode explicar-se pelo facto de neste período de vida se desenvolvem novas competências e capacidades, em que se testam regras e limites, bem como, se tentam ultrapassar as limitações pessoais. Estudos recentes têm revelado uma realidade ainda mais preocupante: este tipo de comportamentos são iniciados cada vez mais cedo, nomeadamente a dependência eletrónica.
Intervenção neste tipo de adições
Como referido, os comportamentos associados os jogos e o uso excessivo de tecnologias foram recentemente classificados como adições. De acordo com alguns estudos, associado a este comportamento, verificou-se igualmente um aumento do consumo de substâncias nocivas.
Compreender este facto é fundamental para se poder delinear uma intervenção eficaz neste tipo de adições. Assim, torna-se obrigatório o desenvolvimento de uma intervenção terapêutica conjunta, em que o tratamento é em simultâneo ao nível dos comportamentos aditivos e consumo de substâncias, de modo a desenvolver os melhores mecanismos para aumentar as suas hipóteses de recuperação a longo prazo.
Em geral, este tipo de intervenções necessita de acompanhamento especializado para se evitarem recaídas e maximizarem-se os ganhos terapêuticos.
Salientar que o primeiro passo para uma intervenção terapêutica eficaz é a pessoa reconhecer que efetivamente tem um problema. Para isso, é necessário coragem. É fundamental o apoio de todos os intervenientes, em particular dos que lhe são mais próximos. Em muitos casos, é também essencial a ajuda profissional de uma equipa multidisciplinar especializada neste tipo de problemáticas.
Na PsicoAjuda dispomos dos serviços de psicologia e psiquiatria com experiência no tratamento deste tipo de problemáticas. Nunca esquecer que é possível uma recuperação total do controlo sobre a própria vida!
Ana Margarida Rogeiro / Psicóloga e Psicoterapeuta
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