Para muitos jovens e adolescentes, o mês de Setembro é o início de uma nova etapa nas suas vidas: mudança de escola ou entrada no ensino superior. Corresponde a vivenciar um conflito de emoções o que exige atenção por parte dos pais, sobretudo durante o período de transição.
A escola assume um papel determinante na vida dos jovens e adolescentes, já que é o espaço onde passam a maior parte do tempo, o encontro de amigos e onde são exigidos empenho e responsabilidade, bases da construção de uma identidade adulta socialmente bem alicerçada.
Na altura de mudança de ambiente escolar e/ou de local de residência, o jovem conta apenas com os seus próprios recursos psicológicos e com o apoio dos antigos amigos e familiares para assim se confrontar com a nova realidade.
Quando o início das aulas significa mudar
O início das aulas significa mudar para muitos jovens. Essas mudanças podem significar uma nova turma, escola ou até uma nova cidade. A PsicoAjuda quis saber como essas mudanças afetam os jovens do ponto de vista emocional, social e relacional. Assim, colocamos as seguintes perguntas a 3 adolescentes.
- O que sentiste quando mudaste de turma/escola/cidade?
- Como essa mudança te afetou?
- Aspetos negativos e positivos dessa mudança?
- Quais foram as principais dificuldades que enfrentaste?
- No relacionamento com os novos amigos, como interagiste?
- Quando mudaste de cidade, os vossos pais falaram com vocês? Como reagiste?
Uma jovem, 16 anos, sempre frequentou o ensino privado e transitou para o ensino secundário numa escola pública.
- Para mim foi muito difícil. Deixei para trás os amigos que tinha na outra escola. Sempre tive alguma dificuldade em arranjar novos amigos e nesta escola foi ainda mais difícil, pois todos já tinham os seus grupos. E senti que fui colocada de parte porque vinha de um colégio.
- Nos primeiros dias fiquei triste. Senti-me isolada e um pouco abandonada. Durante os intervalos ficava sozinha e não falava com ninguém. Agora já vou falando com outras colegas, até porque acabei por encontrar uma amiga que estava como eu e também tinha vindo de um colégio.
- No início, tudo era novo para mim e não sabia bem como devia agir. As regras na escola são muito diferentes das que estava habituada no colégio. Até chegaram a gozar comigo por causa disso. Agora sinto-me melhor, mas penso que ainda não estou totalmente integrada.
- O aspeto positivo foi ter vindo para uma escola onde possa continuar os meus estudos, pois no colégio não tinha ensino secundário. Até porque quero continuar para o ensino superior. Mas, o aspeto negativo é o facto de sentir-me pouco integrada.
- Como disse, no início não interagia com ninguém. Ainda hoje tenho esta dificuldade e só interajo com poucas colegas. Devido à minha timidez, só tenho realmente uma amiga.
- Eu não mudei de cidade, só de escola. Mas, os meus pais falaram várias vezes e explicaram-me que teria que sair do colégio. Por vezes, perguntavam como tinha corrido o dia na escola. Mas, os meus pais andam sempre a correr de um lado para o outro e estão mais interessados nas minhas notas. Nunca chegamos a falar sobre estes problemas de integração. Como até acabo por tirar boas notas, eles nunca se aperceberam destes meus problemas de relacionamento com os outros.
Uma jovem, 16 anos, mudou de escola, vem de uma escola do ensino público. Frequenta o ensino secundário.
- Quando mudei de escola, em primeiro lugar senti saudades da escola onde tinha estado anteriormente, pois passei cinco anos da minha vida a estudar lá, e também era difícil de acreditar que, assim de repente, ia mudar praticamente o meu dia-a-dia. Contudo, também fiquei feliz pelo facto de ir para uma escola completamente diferente, ou seja, com melhores condições, com mais espaço, com pessoas novas para conhecer.
- Senti-me entusiasmada, era uma coisa que queria há muito tempo, e estava ansiosa para fazer essa transição, conhecer pessoas novas, fazer amizades, mudar de ambiente e foi muito bom!
- Foi bom. Fiquei numa turma onde já conhecia algumas pessoas e isso facilitou a adaptação, e por outro lado, conheci pessoas com personalidades e atitudes bastante diferentes do que estava habituada. Pessoas sociáveis, cuidadosas, prestáveis, simpáticas. Isso também contribuiu para que me sentisse mais a vontade e desse a conhecer mais de mim.
- A minha principal dificuldade foi a timidez, que faz com que me reserve um pouco e não me de muito a conhecer, sem conhecer muito bem a outra pessoa e souber com o que posso contar vindo dela.
- Não encontro aspetos negativos, apenas positivos, porque estava disposta a fazer novas amizades e lidar com pessoas diferentes e fiquei surpreendida, pela positiva, com as pessoas que encontrei.
- Nunca mudei de cidade.
Depoimento de jovem, 15 anos, veio de Lisboa. Frequenta o ensino secundário.
- No princípio, senti-me assustado. Não conhecia nada, nem ninguém! Isto fez com que me sentisse um pouco sozinho e isolado. Foi duro ter de deixar todos os meus amigos e tudo o que conhecia… No primeiro mês, na minha nova casa, não sentia que aquela fosse a minha casa. Tinha a mesma sensação de quando se vai de férias para uma casa alugada. Sentia que a minha verdadeira casa estava em lisboa, assim como a minha vida, amigos, etc…
- Foi um novo desafio devido as condições que tive que enfrentar. Hoje, sinto que foi uma boa decisão. No princípio, custou-me um pouco, mas agora percebo que esse esforço até valeu a pena. Pelas novas pessoas que conheci, pelas novas amizades que fiz!
- Agora, o meu relacionamento está muito bem. Mas, nas primeiras semanas foi mais complicado. Até porque a maioria já se conhecia e tinham as suas amizades. Assim que comecei a falar mais com os meus novos colegas, as coisas foram correndo bastante melhor. Neste momento, já criei amizades bastante fortes. Os meus colegas acolheram-me bastante bem!
- A principal dificuldade foi começar a falar com pessoas novas, que não conhecia e começar a relacionar, ou seja, dar o primeiro passo para “entrar” na turma. Assim como não conhecer nada na nova cidade. Foi também uma dificuldade!
- O principal aspeto negativo foi, tal como já disse, ter de deixar os meus amigos, o que conhecia e onde vivia, basicamente, ter de deixar tudo… e começar tudo de novo. E uma adaptação destas custa sempre muito! E o aspeto positivo foi, sem dúvida, as pessoas que conheci e os laços que criei. Fiquei com um dia-a-dia muito menos stressante e mais calmo.
- Sim, os meus pais puseram-me a par desta nova decisão. A princípio, não reagi bem, senti medo e assustado por esta nova realidade, mas com o passar do tempo fui-me habituando a ideia e percebi que era a decisão que os meus pais tinham tomado, e como eles achavam que era o melhor para todos, aceitei essa decisão, mesmo não tendo sido fácil! E foi muito importante sentir que tinha o apoio deles, pois perguntavam-me ao fim do dia como tinha sido, se já tinha feito novos amigos, como era a escola, falarem com os meus professores, etc.
Estes três depoimentos são exemplo do conflito de emoções que os jovens sentem numa situação de mudança de ambiente escolar. A mudança é sempre geradora de stress para o jovem estudante e, este nível de stress depende da situação pessoal, familiar e escolar. É importante o papel dos diferentes intervenientes, quer sejam os pais ou os professores, na ajuda ao jovem estudante, de modo a definir as melhores estratégias para lidar com as frustrações e dificuldades.
Conflito de emoções num novo ambiente escolar
“Quando o coração e a razão entram em conflito”
O ingresso num novo ambiente escolar é uma experiência geradora de stress para os jovens estudantes, uma vez que surge a necessidade imperial, nestas ocasiões, de desenvolver novas relações interpessoais, de participar em atividades sociais de modo a ser possível a integração num novo contexto e a criação de estratégias para lidar com as frustrações e dificuldades.
Para além de, nestas circunstâncias, se exigir um esforço de adaptação do indivíduo, seja no sentido de corresponder às exigências de desempenho, seja no sentido de se adaptar a novas regras da instituição e a novas pessoas, como colegas, professores e funcionários, superando a timidez. A referir também que as novas experiências escolares oferecem ferramentas para o desenvolvimento do juízo crítico, facilitando a emergência de atitudes mais autónomas.
Deste modo, ao lidar com as dificuldades e conflito de emoções, o jovem pode recorrer aos pais, aos amigos e mesmo aos professores. No entanto, os pais são percebidos como fontes de apoio fundamental, apesar da presença dos amigos.
Assim, a perceção do apoio emocional por parte dos pais, a reciprocidade nas relações pais-filhos, o diálogo familiar e o apoio parental específico em questões relativas à transição contribuem para a adaptação.
Além disso, os vínculos afetivos com os colegas, as relações com os professores, as atividades extracurriculares também são também fatores importantes nesta experiência de mudança.
De fato, a vivência trazida pelos estudantes mostrou que os vínculos afetivos com os colegas são essenciais para a adaptação. Além do sentimento de pertencer a um grupo, as amizades possibilitam a partilha de experiências e o apoio em caso de dificuldades.
Já os professores influenciam o envolvimento do aluno em função da forma como preparam e ministram as suas aulas e se relacionam com os alunos. Professores interessados em que os alunos aprendam parecem funcionar como estímulo para a adesão ao curso, ao passo que professores desinteressados estimulam o desinteresse. Paralelamente à relação professor-aluno, as atividades extracurriculares também auxiliam na adaptação, na medida em que possibilitam aos alunos integrarem-se ainda mais na dinâmica do curso, conhecendo mais colegas e professores, e ainda tendo a oportunidade de explorar aspetos da formação não contemplados nas aulas.
Por outro lado, alguns alunos conseguem enfrentar as dificuldades e interpretá-las como se fossem desafios a serem superados (são pró-ativos), enquanto outros as vêm como barreiras intransponíveis. Esta última situação pode resultar de uma atitude passiva frente àquilo que é percebido como frustrante, paralisando os comportamentos.
Desta forma, quando não ocorre uma adaptação eficaz, essa nova situação gera problemas emocionais e conflito de emoções que interferem no desempenho académico, ocasionando situações de isolamento, abandono escolar, desânimo, dificuldades na aprendizagem e nos relacionamentos interpessoais.
Assim, na PsicoAjuda podemos ajudar aqueles estudantes que venham a deparar-se com maiores dificuldades de adaptação e conflito de emoções, seja por estarem longe da família, por não se sentirem capazes para fazer amigos, por não conseguirem organizar-se para dar conta das exigências escolares ou mesmo por apresentarem outros problemas pessoais (falta de autoestima, falta de competências interpessoais, inibição e retraimento) que possam interferir no seu funcionamento quotidiano.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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