Jovem foge de casa

Jovem foge de casa: rebeldia ou pedido de ajuda?

Em Psicologia adolescentes por Elisabete Condesso

Jovem foge de casa. É o pior pesadelo de qualquer pai: a meio da noite, vai ao quarto do seu filho e verifica que ele não está lá. O seu coração palpita descontroladamente e entra em pânico, telefona aos amigos do filho, fala com os familiares e liga para a polícia.

Em Março de 2016, num único mês foram relatados dois ou três casos de fuga de jovens dos seus lares. “Não gosto da minha mãe”. Foi assim que um rapaz de 13 anos justificou às autoridades policiais e à família o fato de ter fugido de casa em Moreira do Castelo, Celorico de Bastos. Um outro caso foi noticiado no inicio de 2019 pelo JN sobre o desaparecimento de uma jovem de 13 anos, no Seixal, que saiu de sua casa para ir para a escola e não voltou para casa.

Segundo uma notícia do DN, em 2009 foram registadas mais de 1100 participações de desaparecimentos de menores. O jovem foge de casa por diversas razões. Dificuldades na escola, chumbos, abusos sexuais, violência familiar, regulação do poder parental, estão entre as principais causas que levam todos os anos mais de um milhar de jovens a fugir dos seus lares.

Qualquer jovem foge de casa se as circunstâncias o proporcionarem. Acredite que se um jovem estiver sobre enorme stress, ele justificará a necessidade de fugir de casa.

Associações em Portugal

A Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas (APCD) é uma das instituições que se dedica à prevenção, deteção e localização de crianças desaparecidas. Nomeadamente, a APDC tem vindo a investir na prevenção, divulgando conselhos práticos nas escolas, em sessões realizadas por todo o pais, de forma a ajudar a diminuir o número de casos de desaparecimentos. Além disso, a APCD lançou no ano passado o Manual de Segurança, dirigido a crianças dos 6 aos 12 anos, com o objetivo de as ajudar a detetar e a proteger-se de situações ou pessoas que se lhes afigurem suspeitas. Trata-se de um documento de muita utilidade para Crianças, Pais, Educadores e Público em geral.

O Instituto de Apoio à Criança (IAC) criou em 2004 a linha SOS Criança Desaparecida, com o número europeu 116000, e que visa dar apoio psicológico, social e jurídico gratuito a todas as crianças vítimas bem como aos seus familiares. Os dados estatísticos de 2015 mostram que o jovem foge de casa geralmente devido a situações ocorridas em casa (alcoolismo, maus tratos, abusos físicos e/ou sexuais).

Jovem foge de casa devido a uma situação stressante

Fugir de casa é como qualquer outra tomada de decisão. São necessárias três coisas: vontade, oportunidade e capacidade. Se pensar nisso, todos os dias, a criança tem a oportunidade e capacidade de fugir – só lhe falta a vontade de o fazer. Essa vontade pode ser desenvolvida por uma grande variedade de razões. Poderá ser o resultado de uma situação stressante que está a viver, medo das consequências daquilo que fez, uma forma de luta pelo poder, não quer ir para a escola, ou um problema de abuso. O jovem foge de casa por diversas razões, mas o problema da fuga começa na relação com a família. Vai para a rua na esperança de resolver os seus problemas.

A principal razão porque o jovem foge de casa é porque não sabe como resolver os seus problemas. Fugir é uma solução do tipo “isto ou aquilo”; é o produto de pensar preto-ou-branco. O Jovem foge de casa porque não quer enfrentar alguma coisa e isso inclui emoções que quer evitar. O jovem que foge esgotou a sua capacidade de resolver os problemas. E deixar o lar – juntamente com tudo o que o sobrecarrega – parece ser a solução imediata para todos os seus problemas.

O jovem no seio familiar dá sinais de que algo não está bem: ansiedade, desinteresse pela escola e amigos, isolamento, uso de drogas, entre outros. Isso mostra que ele está infeliz e com sinais de autodestruição. Ao fugir de casa, o jovem está a mostrar aos pais o que não consegue expressar em palavras e que tem por detrás um conflito familiar e relacional.

Jovem desaparecida
Jovem desaparecida

Muitos fogem de casa como forma de afirmação. Por exemplo, observa-se um aumento de jovens que fogem no verão, em muitos casos, para ir a uma festa, concerto ou festival. Nesses casos, voltam passados dois ou três dias, depois de terem realizado os seus desejos. O jovem que foge de casa sabe que assim provoca autênticos momentos de desespero e angustia nos pais, mas procura provocar-lhes sustos esperando conseguir alcançar a liberdade almejada.

A fuga é um risco sério para o jovem

Só que essas fugas representam sérios riscos para o jovem. Pode vir a cair nas “garras” de exploradores sexuais, pedófilos ou exploradores de trabalho infantil. Por isso a melhor solução é estar atento e ensinar o seu filho a resolver os seus problemas. Deve pergunta-lhe “como podes resolver este problema de forma diferente? Quais são as formas de lidar com este problema?” Encare tudo como um problema que necessita de uma solução, e recompense o seu filho quando é capaz de ser bem sucedido. Diga-lhe “eu gostei da forma como resolveste o problema, António. O professor estava chateado, mas tu levantaste-te e pediste desculpa. Estou orgulhoso de ti.” Sempre que possível, louve o seu filho quando faz algo de positivo.

Se pensa que o seu filho está em risco de fugir ou se sabe que os seus amigos já o fizeram, converse com ele. Modere sempre os seus comentários sobre o comportamento de outras crianças. É frequente alguns pais dizerem: “Oh, aquele bandido. Se o meu filho fugisse nunca mais voltava a entrar em casa.” Como pai, tem que ter muito cuidado com o que diz ao seu filho. O que realmente deve dizer é: “Se um dia fizeres a grande asneira de fugir de casa, mesmo assim não hesites em voltar; estaremos à tua espera e iremos falar sobre isso.” E se o seu filho disser: “Falar sobre o quê?” Deverá dizer: ” Falar sobre como resolver o problema de forma diferente.”

Os dados disponíveis são preocupantes. Por isso, como pai/mãe, deve pensar no que fazer para que o seu filho nunca passe por uma aventura destas.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

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Sobre o Autor

Elisabete Condesso

Directora clínica da PsicoAjuda. Psicóloga clínica e Psicoterapeuta. Licenciada em Psicologia Clínica pela ULHT de Lisboa e com pós-graduação em Consulta Psicológica e Psicoterapia. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. Título de especialista em “Psicologia clínica e da saúde” atribuído pela Ordem dos Psicólogos.