Impacto da separação nos filhos adolescentes

Impacto da separação nos filhos adolescentes

Em Psicologia adolescentes por Elisabete Condesso

A separação ou divórcio contribui significativamente para mudanças no dia-a-dia dos filhos que se sentem divididos entre a mãe e o pai, as pessoas mais significativas para eles. Mas qual o impacto da separação nos filhos adolescentes?

Este acontecimento acaba por interferir no seu desenvolvimento, sobretudo se um dos pais se distancia e não lhe proporciona mais o apoio e afeto, podendo levar ao desenvolvimento de sentimentos de abandono. De fato, a separação dos progenitores altera profundamente a vida da criança ou adolescente.

Geralmente, o impacto da separação nos filhos adolescentes é profunda. Eles vivem este acontecimento com grande angústia e desgosto.

Perante a separação dos pais, a criança é obrigada a reorganizar-se internamente em torno do que se passa, muitas vezes, com elaboração do luto, num processo dominantemente depressivo.

Contudo, apesar das consequências negativas da separação ou divórcio,  e de o impacto da separação nos filhos ser sempre imprevisível, em muitos casos, essa é a melhor opção. Algumas crianças chegam a sentir-se aliviadas por saírem de um ambiente desfavorável, de hostilidade e de constantes discussões.

Durante o processo de separação, apesar dos pais se preocuparem com o impacto da separação nos filhos, geralmente eles sentem-se angustiados e perturbados com os seus próprios problemas, pelo que estão menos disponíveis para atender às necessidades dos seus filhos.

Mas, se por um lado isto acontece, há que perceber que a expectativa da criança é que os seus progenitores sejam capazes de proporcionar-lhe apoio e acolhimento aos seus problemas emocionais, cognitivos e relacionais. Quando isso não acontece e é percebido distanciamento de um dos seus progenitores, pode gerar-se um quadro de fragilidade e sofrimento. De fato, quanto maior for a pressão e o nível de conflitos a envolverem a criança (antes e durante o processo de separação ou divórcio), mais negativo será o impacto e mais graves serão as consequências na sua vida.

Pais devem permanecer unidos na educação e no bem-estar dos seus filhos

Entre casais separados é comum que façam comentários desfavoráveis sobre o outro, muitas vezes, diante dos filhos. A separação pode ser marcada por elevados níveis de conflito, podendo resultar inclusive numa tentativa de um dos progenitores (ou ambos) de utilizarem o filho como instrumento de agressividade direcionada ao parceiro. Neste processo, o pai ou mãe pretende que o filho rompa a ligação afetiva com o outro progenitor, e para isso, tenta manipular o filho com a intenção de o predispor contro o outro – é o síndroma de alienação parental que apresentamos noutro artigo.

Os pais precisam de ser capazes de distinguir que a separação é apenas entre eles e não dos filhos. Para manter uma relação saudável com os filhos, os pais precisam de se esforçar para não contaminarem os filhos com as suas opiniões negativas em relação ao ex-companheiro. É nocivo para todos, principalmente para a criança, ao se ver privada do contato do pai/mãe com quem mantinham um vínculo afetivo.

Assim, pelo contrário, o ideal é que os pais reconheçam e elogiem as virtudes e qualidade do outro, transmitindo maior segurança e permitindo melhorar a autoconfiança dos filhos, características que tanto precisam durante o processo de separação dos pais.

Torna-se imprescindível a existência de cordialidade entre os progenitores, em busca de equilíbrio e igualdade, nas responsabilidades de educação dos filhos, com iguais deveres e direitos, inclusive em relação à divisão de tempo que a criança passa com cada um deles, pois os filhos têm o direito de conviver com ambos, e isso não pode ser retirado da criança.

Só assim se poderão criar as condições propícias para um desenvolvimento saudável da criança, minimizando os traumas, angústias e sofrimentos causados pela separação dos pais. É importante que mesmo separados, os pais permaneçam unidos na educação e no bem-estar dos seus filhos. A principal condição para uma separação bem-sucedida com impacto mínimo para a criança é que os pais coloquem o bem-estar da criança em primeiro lugar. Devem lembrar-se que o papel de pai e mãe continuam intactos, mesmo quando se dissolvem os papéis de marido e mulher.

A adolescência é uma fase muito sensível do desenvolvimento da criança

Durante a adolescência os filhos são mais egocêntricos, tem uma maior noção da sua individualidade e têm menor empatia em relação aos problemas dos adultos.

Na confrontação com os problemas dos pais, com quem têm uma relação mais significativa, os seus sentimentos mais frequentes são: sentem-se muitas vezes divididos na sua lealdade face a cada um dos seus progenitores, manifestam sentimentos de terem sido traídos, apresentam sentimentos de ansiedade, angústia e preocupações concretas, por vezes, revolta-se, isolam-se ou, por outro lado tentam assumir a responsabilidade e proteger o pai / mãe que sentem estar mais fragilizado.

Adolescente angustiada com a separação dos pais
Adolescente angustiada com a separação dos pais

Na adolescência é normal dar-se a desidealização dos pais, em que eles deixam de ser os seres perfeitos para serem percebidos como pessoas sujeitas a falhas, o que é importante no processo de autonomia da criança. Só que durante a separação dos pais esse fenómeno acentua-se. Muitas vezes, os filhos acusam os pais em relação à sua conduta de abandono da mãe/pai, criticam-nos relativamente às suas atitudes de pseudo-adolescência, …

É uma fase muito sensível do desenvolvimento do adolescente, devido ao surgimento de diversos problemas quer a nível da sua sexualidade, quer em relação a si próprio, aos outros e ao mundo que o rodeia. Assim, nesta fase, a ambivalência dos pais e os seus problemas não facilitam este processo de autonomia devido a esta grande instabilidade e à sua grande necessidade de referências afetivas significativas e consistentes. No entanto, em certos casos, pelo contrário, o confronto com as dificuldades dos pais leva-os a assumirem e entrarem mais depressa na vida adulta.

Como diminuir o impacto da separação nos filhos

Numa situação de separação e divórcio os pais devem estar atentos às dificuldades e necessidades do(s) filho(s), tentando minimizar a pressão que sobre eles é exercida e melhorar a sua autoestima. Perante os filhos, devem adotar uma postura de verdade, devem conversar com eles e esclarecer todas as dúvidas que possam surgir.

É importante incentivarem os filhos a verbalizarem as suas sentimentos e emoções, ajudando-os a libertarem as tensões e a tomarem consciência dos seus problemas. É fundamental garantir aos filhos que, independentemente da crise, continuarão sempre a gostar deles, e a serem seus pais. Ambos os pais continuarão a ter um papel muito importante nas suas vidas.

Assim, será possível diminuir o impacto da separação nos filhos adolescentes.

Para os Pais: proteja os seus filhos

  • É muito importante que os pais não impeçam o contato deles com o outro progenitor;
  • Não devem pedir ao seu filho para tomar partido; por exemplo: com quem é que ele quer viver.
  • Não devem perguntar ao seu filho informações acerca do seu ex-marido / mulher.
  • Não devem usar os seus filhos como “arma” para se vingar do seu ex-companheiro(a).
  • Não usem o filho como mensageiro na comunicação com o seu ex-companheiro(a).
  • Tranquilizem o(s) seu(s) filho(s) garantindo-lhes que a responsabilidade da separação foi dos pais.
  • Estejam disponíveis para a relação, dediquem tempo e atenção para falarem com o(s) seu(s) filho(s).

Os pais podem, assim, adotar uma postura construtiva em que conseguem conversar e entender-se em relação os seus filhos. Conseguem colocar o bem-estar dos filhos acima de todas as coisas, sem procurarem manipular os filhos em seu benefício e, assim, poderão ultrapassar este período de crise com o mínimo de ansiedade e perturbação.

Onde pedir ajuda?

O(a) psicólogo(a) pode ajudar a família (pais, filhos) a encontrar soluções adequadas para uma nova etapa que começa. Este profissional intervém nas questões emocionais e práticas de menores, na situação de separação, a fim de resolver todos os aspetos inerentes a esta regulação. O seu objetivo principal será obter um consenso familiar que altere o menos possível a vida dos filhos, visando essencialmente que eles não percam os laços afetivos que mantém com os seus pais e restantes familiares, amigos e professores. A organização do tempo é fundamental neste processo. Deve ser preparada, atentamente, quer pelos pais, quer pelos profissionais que os ajudam, de forma a preservar, da melhor maneira, a vida e o interesse de cada um.

Na PsicoAjuda disponibilizamos serviços adequados a esta problemática com vista a minimizar o impacto da separação nos filhos adolescentes. Será possível ultrapassar as dificuldades e encontrar a estabilidade emocional, quer para os pais, quer para os filhos.

Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta

© PsicoAjuda – Psicoterapia certa para si, Leiria

Sobre o Autor

Elisabete Condesso

Directora clínica da PsicoAjuda. Psicóloga clínica e Psicoterapeuta. Licenciada em Psicologia Clínica pela ULHT de Lisboa e com pós-graduação em Consulta Psicológica e Psicoterapia. Membro efetivo da Ordem dos Psicólogos. Título de especialista em “Psicologia clínica e da saúde” atribuído pela Ordem dos Psicólogos.