Neurossonologia

Neurossonologia no diagnóstico da Oclusão da Veia Central da Retina

Em Neurologia por Ana Inês Martins

Neurossonologia perspetiva-se como uma nova técnica de diagnóstico clínico da oclusão da veia central da retina, apresentado diversas vantagens, em particular é uma técnica não invasiva e segura, além de ser útil quando o exame fundoscópico não é aplicável.

O que é a Oclusão da Veia Central da Retina

A oclusão da veia central da retina (Central Retinal Vein Occlusion – CRVO) é uma patologia vascular comum da retina. Produz uma perda de visual grave monocular subaguda, geralmente indolor. A neovascularização da retina e da íris pode resultar em hemorragias vítreas, glaucoma neovascular e descolamento de retina tracionado.

Geralmente, esta doença ocular ocorre em pacientes com mais de 50 anos, estando associado com doenças sistémicas como hipertensão arterial, diabetes e doença cardiovascular ou doenças oculares, como glaucoma crónico simples. Ao exame oftalmológico, a retina apresenta-se com hemorragias em todos os quadrantes, com tortuosidade venosa importante, podendo ter algum grau de hemorragia vítrea e exsudatos algodonosos em quantidade bastante variável.

Oclusão da Veia Central da Retina
Oclusão da Veia Central da Retina

Diagnóstico clínico atual é realizado através de exame fundoscópico

Geralmente o diagnóstico clínico é realizado através de exame fundoscópico e apoiado por angiografia com fluoresceína, técnica invasiva que requer administração de contraste intravenoso. O diagnóstico torna-se mais difícil na presença de complicações locais, impedindo a observação do fundo ocular, como hemovítreo, às vezes exigindo uma intervenção cirúrgica esclarecedora.

Neurossonologia como nova técnica de diagnóstico

A neurossonologia tem sido usada como uma técnica de diagnóstico não invasiva e segura, mas ainda não foi apontada como uma ferramenta de diagnóstico definitiva na CRVO.

A neurossonologia é uma técnica que consiste na utilização dos ultra-sons para o estudo dos vasos sanguíneos. Trata-se de uma técnica não invasiva, relativamente barata, se necessário pode ser efetuada à cabeceira do doente, dá informação em tempo real e pode ser repetida permitindo monitorização. Fornece não só a avaliação morfológica do vaso mas também o perfil hemodinâmico da circulação através da análise das velocidades de fluxo.

Uma equipa de investigadores portugueses, na qual me incluo, realizou um estudo de um caso clínico (Neurosonology: a potential diagnostic tool in central retinal vein occlusion), que foi publicado na revista “International Journal of Clínical Neurosciences and Mental Health” e apresentado no “10th World Congress on Controversies in Neurology (CONy)”, que se realizou em Lisboa, em março de 2016. Esse estudo destacou o potencial da aplicação da neurossonologia como técnica de diagnóstico no CRVO, particularmente útil quando o fundo ocular não pode ser visualizado adequadamente.

International Journal of Clínical Neurosciences and Mental Health
International Journal of Clínical Neurosciences and Mental Health

Estudo de caso

O estudo de caso envolveu uma mulher de 82 anos, com hipertensão arterial e diabetes tipo 2, que  desenvolveu comprometimento subagudo da acuidade visual no seu olho esquerdo, permitindo apenas a visualização dos movimentos da mão. A oftalmoscopia revelou um hemovitreo total do olho esquerdo. A ecografia ocular não mostrou outras lesões. O diagnóstico diferencial ficou entre CRVO e a síndrome ocular arterial isquémica. O Doppler codificado por cores transorbitais identificou uma artéria oftálmica esquerda preservada e um fluxo reverberante na veia central da retina, sugerindo o CRVO. A paciente foi submetida à vitreotomia pars plana associada ao endolaser como tratamento dessa complicação secundária do CRVO.

Ana Inês Martins / Médica, especialidade de Neurologia

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Sobre o Autor

Ana Inês Martins

Médica, especialidade de Neurologia. Atualmente no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e na PsicoAjuda Clínica Médica.