O sucesso de uma relação é importante para o nosso bem-estar emocional. Um caso de infidelidade pode deitar tudo a perder numa relação duradoura, magoando todos os elementos da família. Então, porque continua a existir traição conjugal? Será devido a um conceito de realização pessoal e/ou procura de identidade? Ou será devido a fatores situacionais da própria relação? Será a infidelidade uma predisposição genética ou estar relacionado com determinados traços de personalidade?
Estas são algumas das questões que poderemos colocar relativamente a este tema e que iremos responder neste artigo.
O que podemos considerar infidelidade ou traição conjugal?
A infidelidade ou traição conjugal é um tema controverso, sendo uma das principais causas de divórcio. Existem diversas opiniões em relação à definição deste conceito, pois abarca diversos contextos e vários tipos de comportamentos que podem ser considerados como sendo indicadores de traição conjugal dentro de uma relação.
Quando duas pessoas se envolvem num relacionamento romântico, passam a incluir o outro nas suas experiências de vida, nos seus desafios diários e até no modo como se encaram a si próprios. Se este tipo de interação com outra pessoa se prolonga no tempo, mais recalcada fica a perceção de pertença um do outro. E é por este motivo que quando existe infidelidade a encaramos como um ato de traição a nós mesmos e ao modo como vemos o mundo e as pessoas.
De um modo geral podemos considerar a traição conjugal como a perda de exclusividade de um dos parceiros na sua relação a dois. Aqui é importante diferenciar a tipologia da infidelidade praticada. Se a traição conjugal tem predominância de comportamentos sexuais com outro parceiro, considera-se uma infidelidade sexual. Já se a traição conjugal for ao nível de paixão e desenvolvimento de sentimentos românticos por outro parceiro, já é considerada uma infidelidade emocional.
Podemos ainda ter um conceito mais lato de traição conjugal. Visto que na atualidade o que se exige à pessoa que partilha a vida connosco é um conjunto de papéis como o ser melhor amigo(a), melhor marido (esposa), melhor pai (mãe) ou até melhor amante, qualquer ato que não vá ao encontro das expectativas do outro pode ser considerado uma traição conjugal.
Infidelidade Online
A recente evolução das tecnologias e redes sociais permitiu a existência de um terceiro tipo de traição conjugal, a infidelidade online. Apesar de ainda haver poucos estudos relativos a este tipo de traição, de acordo com o que foi já recolhido, verifica-se que uma interação online pode ser interpretada como sendo tão grave como um caso de infidelidade sexual, podendo igualmente levar ao término de um relacionamento.
Apesar de neste tipo de infidelidade não haver um contacto físico, não significa necessariamente que não provoque os mesmo efeitos negativos dos outros tipos de infidelidade. Afeta de igual modo a componente emocional do parceiro devido ao facto de deixar de haver exclusividade de partilha de experiências e valores mútuos.
Manifestamente uma relação online é uma situação stressante para o parceiro(a) traído porque haverá mais facilidade em manter esse tipo de contacto e, como consequência, aumenta exponencialmente o sentimento de insegurança, quer na relação, quer a si próprio. Mas tudo depende do que é considerado um ato de traição online, e irá sempre depender da interpretação e valores presentes nas pessoas envolvidas. E ainda de acordo com a especialista Esther Perel, “hoje em dia é cada vez mais fácil ter um caso, mas cada vez mais difícil de o esconder”.
Traição conjugal é igual para o homem e a mulher?
De acordo com os estudos feitos nesta área, os homens têm mais receio e são mais afetados pela infidelidade sexual da sua parceira. Já as mulheres são mais afetadas pela infidelidade emocional. Poderão existir diversas explicações para este facto, mas se considerarmos uma perspetiva evolucionária, podemos verificar que o homem ao sofrer uma perda de exclusividade sexual, sente a sua prole ameaçada, enquanto que no caso da mulher, se houver um envolvimento afetivo com outra parceiro, é provável que haja uma situação de abandono e perda de recursos do seu parceiro. Atualmente esta visão não se verifica necessariamente, uma vez que em muitos casos uma mulher já não necessita do apoio dos recursos do seu companheiro. No entanto, ao que parece, a consolidação deste tipo de ideais na sociedade permitiu que se tornassem crenças para a maioria das pessoas.
Insatisfação com a própria relação é uma das principais razões para a traição conjugal
O ato de infidelidade é geralmente visto como sendo algo negativo e provocador de grande sofrimento para as duas partes da relação. Apesar disso, os casos de traição conjugal existem com frequência e na maioria das vezes a pessoa que trai não admite voluntariamente esse ato. Então porque o faz?
Segundo alguns estudos, a pessoa que trai justifica o seu comportamento de modo a lidar com o sofrimento gerado a si e ao seu companheiro/companheira de relação. Uma das principais justificações é a insatisfação com a própria relação, em particular a falta de capacidade do seu companheiro/companheira em satisfação as suas necessidades (tanto a nível emocional como sexual). Os comportamentos que advêm desta falta de satisfação poderão ser o aborrecimento, a falta de apoio emocional, a falta de comunicação, e a quantidade de interações positivas e negativas presentes no dia-a-dia da relação.
Falta de compromisso com o outro é outra das principais justificações para a traição conjugal
Outra das justificações apresentadas está relacionada com o nível de investimento na própria relação. Ou seja, no modo como a pessoa perceciona o compromisso assumido com a outra pessoa, incluindo o nível de autonomia e dependência para com o/a parceiro/parceira. Esta última está relacionada com o modo como nos vemos e no modo como vemos os outros.
Importa aqui salientar que esta perceção de compromisso resulta do desenvolvimento de uma imagem ou conceito que é desenvolvido ao longo da nossa vida através da convivência e interações estabelecidas com as outras pessoas. Como tal, o modo como percecionamos as relações dos nossos pais e cuidadores vão influenciar as atitudes adotadas nas nossas próprias relações e no modo como nos inserimos nelas.
Traição conjugal quando se procura outras facetas da nossa identidade
Já lá vai o tempo em que o divórcio era motivo de vergonha e algo a evitar. Hoje em dia, pelo contrário, continuar com um parceiro que não vá ao encontro das nossas espectativas é considerado sinal de fraqueza, pois merecemos ser felizes em toda a plenitude.
Por vezes, acontece que a pessoa que trai pode até estar razoavelmente satisfeita com o parceiro/a atual. Só o faz porque quer encontrar outro tipo de identidade pessoal. Numa atitude narcísica, procura descobrir novas facetas de si próprio/a.
Dando um exemplo prático, consideremos o caso da Carolina (nome fictício). É uma mulher plenamente realizada em todos os papéis da sua vida, mas que acabou por apaixonar-se por um colega. Ela continua bastante ligada ao seu marido e sente-se culpada por magoá-lo, mas o caso com o colega possibilita-lhe o renascimento e descobrimento de outras facetas da sua própria identidade.
Já da parte da pessoa traída verificam-se igualmente problemas ao nível da identidade. Coloca tudo em perspetiva, ao constatar que a pessoa em quem confiava plenamente, e que considerava ser a pessoa especial, cometeu uma falha. Tal situação provoca a dúvida acerca de quem realmente é e porque deixou de ser o(a) parceiro(a) exclusivo na relação.
Todos nos identificamo-nos com diversos casos em que isto se aplica. Pelo menos podemos conhecer alguém que já tenha passado por isso. É o caso de Ana (nome fictício), que foi vítima de uma traição da parte do seu marido João (nome fictício). Afirma que não contaria com o apoio dos amigos ou da família, uma vez que os seus sentimentos não seriam compreendidos. Por outro lado, ainda nutre sentimentos fortes pelo marido, apesar da sua infidelidade. Esta situação provoca-lhe um estado de confusão tal que pode levá-la a um desajustamento emocional.
Traços individuais de personalidade potenciam a infidelidade
Para além das principais justificações que já referimos, também foram identificados alguns traços individuais associados a pessoas que traem os seus parceiros. Se o parceiro tem um alto nível da abertura a novas experiências e extroversão, está também mais suscetível ao aborrecimento.
De um modo geral, pode haver todo um conjunto de fatores que contribuem para uma situação de infidelidade, podendo partir de fatores internos ou externos à relação, ou até de ambos. O certo é que a pessoa que trai reconhece a situação como sendo dolorosa e negativa para a sua relação. No entanto, devido a diversos fatores internos e externos, a pessoa, mesmo assim, adota esse comportamento, vezes sem saber ao certo as razões para o ter feito.
E depois da traição conjugal? O que pode ser feito para recuperar a relação?
Uma vez que um episódio de infidelidade é geralmente devastador para uma relação, o sentimento que depois fica entre ambos é na sua maioria o de perda, desconfiança, insegurança, falta de afeto e de fé no outro.
Após a traição, as consequências para o parceiro daquele que é infiel podem resultar em desilusão, agressividade, depressão, culpabilidade e baixa autoestima. Posteriormente pode levar a um estado de instabilidade emocional e confusão de identidade e consequentemente consumos excessivos (comida, tabaco e álcool).
Uma situação de traição conjugal pode ser extremamente dolorosa para as duas partes, em que surgem dificuldades que por vezes parecem difíceis de superar. Mas, também se coloca a possibilidade de encararmos um caso de infidelidade como uma segunda oportunidade para fazer renascer uma nova relação … que até pode ser com a mesma pessoa! É necessário “repensar a infidelidade“, como refere a Dra. Esther Perel.
A ajuda de um profissional em psicologia pode ajudá-lo a superar uma situação de infidelidade. Dado ser uma problemática extremamente complexa e que provoca uma grande tensão emocional, uma terapia com base na reorganização emocional e compreensão mútua é uma ajuda indispensável nestes casos.
Na PsicoAjuda disponibilizamos serviços adequados a esta problemática, com vista a possibilitar a estabilidade emocional e a clarificar o melhor caminho para uma vida feliz e que vá de encontro com o que esperamos dela e das nossas relações.
Ana Margarida Rogeiro / Psicóloga e Psicoterapeuta
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